Com a maioridade de D. Pedro II, o prestígio da Monarquia salvou o Brasil

 

 

Artigo de Leon Beaugeste [*]

 

RIO DE JANEIRO [ ABN ] — Os nove anos de regência, que vão desde 1831 até 1840, constituem a fase mais agitada da nossa existência autônoma. A “experiência republicana” das regências não pudera dar seus frutos, não só pela dispersão das forças nacionais em choque, mas também pelo caráter extraordinariamente singular de Diogo Feijó. Sentia-se a falta de um homem-símbolo, de uma figura central que encarnasse a autoridade suprema e a pusesse a cavaleiro das revoltas periódicas ou das indisciplinas ousadas. O Imperador, com seus 15 anos, oferecia um pólo em redor do qual podiam evoluir as idéias, as aspirações, as forças políticas dispersas até então dentro do País.

 

Em 1839, quando se cogitava da grave questão da antecipação da maioridade, foi dito a Dom Pedro II:

 

— Senhor, acha-se em risco tanto a paz do Império como a causa da Monarquia. Só um braço há que a ambas possa salvar: é o de Vossa Majestade. Antevemos desde já um porvir de venturas, confiado a tão alta sabedoria.

 

D. Pedro então perguntou:

 

— Será certo que com pouco mais de 14 anos possa haver sabedoria?

 

Os senadores se reuniram e formularam a D. Pedro a pergunta:

 

— Quererá Vossa Majestade assumir o Governo em 2 de dezembro, quando completa seus 15 anos, ou quer já?

 

— Quero já! – foi a sua resposta.

 

A campanha pela maioridade de D. Pedro II foi uma revolta do instinto de conservação nacional. Ninguém se preocupou com indagar propriamente dos méritos do régio adolescente.

 

A confiança geral residia no princípio que ele encarnava, e que era o símbolo da paz e a garantia da segurança da nacionalidade. No dia 23 de julho de 1840, o prestígio da Monarquia salvou o Brasil. Salvou-o, e é fato que todos se voltaram para o Imperador-menino como se vissem nele o único recurso possível de salvação para o País. Somente um poder superior e inacessível às contingências dos partidos poderia pacificar e tranquilizar os espíritos e robustecer os laços da unidade nacional. Com a sua investidura, conseguiu evitar a perturbação da ordem, senão a dissolução do Império.

 

Charles Reybaud conta que, em 1850, o Conselheiro Marques Lisboa, embaixador do Brasil em Londres, falava, diante do Duque de Wellington, sobre a situação do Império do Brasil e a vitalidade de suas instituições, que haviam permitido atravessar, sem confusão, o período tão tempestuoso de uma regência de dez anos. O Duque meditou alguns instantes. Depois, em voz lenta e grave, e como que pesando as palavras, respondeu:

 

— Podeis orgulhar-vos de vossa Constituição e de vosso país. Não conheço na Europa um único Estado que tivesse resistido a semelhante prova.

 

Visto no seu conjunto, o reinado de D. Pedro II é uma obra-prima de paciência humana e de dedicação patriótica. Nada era mais fácil do que inutilizar, no dia seguinte à Maioridade, a boa vontade e a esperança dos que não viam outro meio de sair da oligarquia senão a sua coroação. No entanto, ele teve a habilidade de conseguir, por perto de meio século, a quase unanimidade nacional em apoio do seu trono e de sua pessoa.

 

Leon Beaugeste, articulista e cronista da ABN, é médico, escritor, autor do livro A Volta ao Mundo da Nobreza e Revivendo o Brasil Império, publicado sob o pseudônimo Leopoldo Bibiano Xavier.