Relações Públicas e Assessoria de Imprensa – Artigo de João Alberto Ianhez

João Alberto Ianhez -Presidente da Conferp

 

 

João Alberto Ianhez é Consultor de Relações Públicas e Presidente do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (Conferp)

 

BRASÍLIA [ ABN ] — Esta é uma questão que envolve a ocupação de espaços de outras profissões e a ética: Relações Públicas e Assessoria de Imprensa.

Nos Estados Unidos e em países da Europa existem restrições ao exercício concomitante das duas funções: assessor de imprensa e jornalismo. Quando uma pessoa que tem registro de jornalista vai trabalhar numa empresa de Relações Públicas, ou numa Assessoria de Imprensa, ela está impedida de trabalhar em um veículo de imprensa e perde, temporariamente, seu registro de jornalista.

Apenas como esclarecimento, para os leigos, a Assessoria de Imprensa não se destina a escrever matérias para serem enviadas para os veículos de imprensa, com o objetivo de serem publicadas, Nem, necessariamente, preparar sugestões de pauta. A função real dessa atividade é convencer o jornalista e o veículo de imprensa que representa, de preparar uma matéria, fazer uma entrevista, dar cobertura a um evento, sem tirar a independência dele e do veículo de imprensa que representa. O ideal é que essa função seja exercida por pessoas neutras, que não possam ter influência nos veículos de imprensa a não ser pelo valor dos fatos, das informações que trazem e a importância das mesmas como notícias.

Hoje, os veículos de imprensa estão abarrotados de lixo, textos e sugestões de pautas enviadas pelas assessorias de imprensa, que atuam fora de uma visão macro e estratégica da comunicação empresarial. Existem entre essas chamadas “sugestões de pauta” verdadeiras descrições de produtos, ressaltando todas suas qualidades, com abundância de adjetivos. Isso é marketing, é propaganda, é promoção de produtos, não assessoria de imprensa. Nos principais órgãos de imprensa, a abordagem é pessoal, sugestões de pautas só para matérias secundárias. O contato pessoal é que vale para matérias de peso. As matérias, entrevistas e reportagens ocorrem naturalmente por relacionamentos bem conduzidos da organização, por seu trabalho integrado na construção de um conceito forte e fundamentado na realidade de suas ações, no reconhecimento público.

Querem colocar assessoria de imprensa como função privativa dos jornalistas, enquanto o bom senso e a ética dizem que o jornalista que migrar para a assessoria de imprensa deve perder, enquanto permanecer nessa função, o registro e o direito de atuar em um órgão de imprensa. Bom senso e ética está na decisão sábia e fundamentada do Tribunal Superior do Trabalho: “Assessor de imprensa não exerce atividades típicas de jornalistas, pois o desempenho dessa função não compreende a busca de informações para a redação de notícias e artigos, organização, orientação e direção de trabalhos jornalísticos, conforme disciplinado no artigo 302, § 1º, da CLT, Decreto Lei nº 72/69 e Decreto nº 83.284/79. Atua como simples divulgador de notícias e mero repassador de informações aos jornalistas, servindo apenas de intermediário entre o seu empregador e a imprensa”. (Processo Nº TST – RR – 261412/96. 5).

As legislações existentes nos EUA e em países da Europa, como França e Portugal, também entendem assim.

Colocam, portanto, a assessoria de imprensa, como deve ser, como atividade subordinada ao foco e interesse dos leitores e do valor para os mesmos do que se pretende divulgar.

Diferentemente da maioria que fala sobre este assunto, eu posso falar com conhecimento de causa, pois vivo esse mercado desde 1962. A atividade de Relações Públicas foi à pioneira nessa área. Assessoria de Imprensa teve início no Brasil como integrante dessa atividade, como ainda é em organizações que têm a visão macro da comunicação e adotam Relações Públicas. Não quero dizer que o jornalista não possa atuar na assessoria de imprensa, mas para isso deve deixar de ser jornalista, ou melhor dizendo, deve estar impedido de exercer a profissão em um órgão de imprensa, como ocorre em outros países.

Para Relações Públicas, a imprensa é um público, em seu segmentado quadro de públicos relevantes. Portanto, exercida por este ou aquele profissional, a assessoria de imprensa é parte do composto de Relações Públicas.